Anderson Gurgel

Cada vez mais, a realidade das empresas de saúde se distancia de situações em que a rotina de médicos e administradores hospitalares é movida por improvisos e romantismo. Na prática, as grandes entidades do setor, atualmente, são empresas com sistemas de gestão de ponta, na quais se mantém o ideal de salvar vidas, mas com um olho no melhor resultado e com o menor custo possível. E o Brasil já está nessa rota dessas transformações – e está fazendo bonito.

A máxima que rege essa transformação é aquela que diz que um hospital, hoje, não precisa e não deve mais ser sinônimo de sofrimento contínuo, comida ruim e acomodações de baixa qualidade. A tendência é oferecer os serviços hospitalares como um produto, tratando os pacientes como clientes e tendo como objetivo maior prestar um serviço de boa qualidade. Para isso, é fundamental oferecer recursos de gerenciamento tanto hospitalares quanto administrativos.

Tecnologia da Informação

O grande aliado dos centros de saúde na transformação de parâmentro antigos de atendimento hospitalar para o padrão moderno tem sido a gestão da tecnologia da informação (TI). Por meio dela é possível, inclusive, fazer uma ponta integrando recursos de gestão administrativa e da prática médica.

Um bom exemplo da eficiência da aplicação de TI pode se rvisto no Hospital São Camilo, rede com três unidades em São Paulo. Emanuel Salvador Toscano, diretor administrativo, conta que a preocupação da instituição com uma melhor gestão dos processos começou em 1999. Após as mudanças na regras dos planos de saúde, houve um grande aumento na exigências de controle de gestão do negócio. Para dar conta dessa nova demanda, o São Camilo fez o primeiro grande investimento em tecnologia de gestão por meio da compra de um ERP, que integra operações básicas como gerenciamento de leito, suprimentos, faturamento e consultas. A partir daí, deu-se uma expansão progressiva do sistema, e agora se estuda a implantação dos módulos financeiro e contábil.

Um dos sintomas mais imediatos quando a aplicação de TI em hospitais é sentido na redução dos custos operacionais. Logo após a adoção da solução ERP, o São Camilo detectou uma redução no tempo médio de faturamento dos serviços apartir do momento da alta do paciente. Antes o processo demorava até seis dias; com o novo sistema, a fatura passou a ser feita em três. “Este ano já economizamos mais de R$200 mil com esse sistema”, dis Toscano. O controle das informações também permite redução de custos na enfermaria, na UTI e nas demais áreas da instituição.

Nova estrutura

Outro hospital que está investindo na tecnologia para aprimorar seu serviço é o tradicional Sírio-Libanês, de São Paulo, fundado há 80 anos. Maurício Ceschin, superintendente corporativo, conta que chegou à entidade no início do ano com um desafio: manter a tradição conquistada, mas adequando-a à nova realidade da medicina. Para isso, a grande aposta é a implantação do conceito de solução integrada de saúde, ou seja, um sistema de gerenciamento de todas as fases de trabalho do hospital, que passam pela educação, pela prevenção, pela promoção da saúde, pelo tratamento, pela reabilitação e pela recondução à vida normal dos pacientes.

Como no caso so São Camilo, uma das primeiras ações dessa nova política doi refazer a estrutura organizacional, dividindo as áreas de atividade-fim, como clientes e fornecedores. Daí para diante foram montados os planos de informática, comunicação, recursos humanos e de reformas e obras, entre outros. No centro dos investimentos de TI estão softwares de business intelligence (BI), CRM, ferramentas de análise de desempenho e revisão da estrutura call center.

O Sírio Libanês já investiu nessa ação mais de R$4,6 milhões. A previsão é de chegar a R$7 milhões até o fim do ano. O alto investimento, contudo, compensa: apesar de recentes, as mudanças já surtem efeito no aumento do volume de atendimentos, ou seja, maior produtividade.

Bilhões de Negócios

O amplo impacto do uso das tecnologias no mundo hospitalar se dá desde a entrada de energia e a infra-estrutura de rede, servidores e comunicação até o usuário final. “A visão correta de todos os componentes envolvidos é que garante o sucesso de uma solução em TI, e isso implica olhar de forma abrangente e não apenas considerando os sistemas e servidores.”

Atualmente o segmento de saúde representa 6% do PIB brasileiro. São ao todo 6,5 mil unidades no Brasil, sendo 35,2% estabelcimentos públicos, 62,4% redes privadas e 2,4% hospitais universitários. A mais recente grande feira do setor, a Hospitalar 2005, apresentou números que traduzem o bom momento dos hospitais no país: mais de R$3,4 bilhões em negócios realizados em quatro dias de evento.

Apesar desses números, no entanto, a TI ainda é uma novidade para os hospitais brasileiros, que investem apenas 1% de seu orçamento – os americanos, em comparação, investem em média de 2% a 3%. Os materiais hospitalares e os medicamentos representam aproximadamente 40% das despesas dos hospitais brasileiros, e o uso de TI pode aprimorar o controle das demandas e agregar maior qualidade e seguraça aos procedimentos.

Tecnologia Médica

Uma segunda frente importante na revolução que acontece nos hospitais brasileiros é a das teconologias ligadas diretamente ao tratamento de pacientes. Grande aposta do setor, o Prontuário Médico Eletrônico já vem sendo testado em vários hospitais. Um deles é a Unimed Sorocaba, que já conta com um sistema 100% adaptado para esta tecnologia. Esse sistema permite que toda a informação médica sobre um determinado paciente fique disponível para qualquer equipe médica que o atenda. “Todos os profissionais de saúde têm acesso à evolução do quadro e ao histórico do paciente, reduzindo erros e otimizando o tratamento.”